Domingo é dia de que? Qualquer coisa, menos aquilo que passa na TV à tarde e não é futebol. To aqui bebendo uma pinguinha mineira lá de Diamantina, num copinho da Flip, e pensando: é uma ligação histórica e física, a estrada Real, ou o caminho do ouro. E como uma coisa leva a outra, me lembro de garimpo. E garimpo é o que se faz atualmente na internet. Fazendo direitinho pode-se achar ouro. Cada vez mais difícil. Muita gente acha que o tal do youtube é qualquer coisa. Né não, mermão. Garimpa pra ver. Como ainda não sei como postar o vídeo aqui, coloco o endereço. É só clicar ou copoiar e colar e ver o vídeo que tá bombando, o tapa na pantera. Vale a pena.
E pra não passar em branco e fazer companhia pra pinguinha vai um dedo de prosa.
É isso por hoje.
Inté.
http://www.youtube.com/watch?v=CfFC77ZYX6c&NR
Poder
Cento e trinta e três passos separavam Márcio de seu carro. Ele sabia de cor, tantas vezes havia medido aquele caminho, entre a porta do escritório e o carro no estacionamento. Polia o orgulho todas as vezes que parava na vaga, onde se lia em letras maiúsculas, no chão: DIRETOR.
Márcio estava por completar trinta e cinco anos. Só ele sabia como ralou para chegar até ali. Quantas e quantas noites de serão, finais de semana longe dos amigos e familiares, sem jogo de futebol, sem a cervejinha sagrada. Sacrifícios que agora estava valendo a pena. Belo carro, conta bancária confortável, respeito, orgulho e um futuro garantido, sem sobressaltos.
Olhava para si e via um homem bem sucedido, merecedor. Sentia-se senhor do seu destino, como todos aqueles que traçam um caminho, objetivam, focam e buscam.
Como sempre fazia olhou o relógio de ouro no pulso esquerdo e contou os passos devagar: um, dois, três, já era rotina, contava sem sentir, sabia quantos segundos...
- Isso é que é vida, hein doutor!?
Perdeu a conta e deu uns três ou quatro passos sem contar. Tentou reconhecer o dono daquela voz, que falou assim, um tanto íntimo, sem o respeito com o qual se acostumou a impor. Sua cabeça viciada a pensar rápido, fazer cálculos, vasculhou os arquivos a procura de algum indício. O contato visual não ajudou.
Não reconheceu o preto baixo, meio calvo, sorridente que o olhava com alguma admiração. Deixou o pescoço cair para a esquerda, enquanto se perguntava quem era esse? Sorriu simpático e como não encontrou qualquer vestígio, se rendeu.
- Conheço a voz, mas não me lembro quem é. – Mentiu.
- É assim mesmo.
- Rapaz, eu estou quase me lembrando. Do futebol?
- Passou perto.
- Faculdade? – Jogou pra cima.
- Não. Quem sou eu para ter feito faculdade. Ô, doutor, ta me estranhando?
- Pó, cara, não lembro. Diz logo de onde a gente se conhece.
Eles se aproximaram e cara a cara, Márcio teve certeza de que precisava se livrar. Algo, porém o impedia de se virar e seguir adiante, como sempre fazia, quando pediam esmola, ou queriam vender qualquer coisa. Naquele momento pensou o de sempre: não podia fazer nada, a miséria do mundo não era responsabilidade sua.
O sujeito sorria divertido com a confusão mental que provocava em Márcio, e não parecia disposto a se revelar, ou simplesmente achava que não era preciso.
Márcio olhou ansioso para o relógio e percebeu então a impossibilidade daquela conversa. Os mesmos segundos. O tempo parara. Um frio percorreu e arrepiou seu corpo. Olhou de relance para o carrão e pensou: foda-se o seguro me dá outro.
Buscou com o olhar superior a insignificância do olhar do outro. Não viu, só ouviu:
- Perdeu!
A bala atravessou o peito e fez um buraco na lataria do carro.
- Uma besteira, qualquer lanterneiro repara facilmente. – Pensou Márcio, enquanto dobrava as pernas e se ajoelhava diante do desconhecido.
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