Era uma vez...
“Você não devia ter me matado”. Olho para ela com a sensação de desordem, como se nada estivesse posto. Uma arbitrariedade do tempo. Tempo? Um sorriso meigo de aceitação, de conformidade, de cumplicidade.
“É melhor assim. Como viver sem saber?” Penso ou falo, mas não ouço exatamente. Perplexidade. O corpo nu, belo. Tão belo que se torna insuportável, agressivo. Bélico.
Ela continua questionando, mesmo sem vida, sem medida. Pode. Uma coisa assim não pede. Pode. “É preciso mais coragem para imaginar do que para viver”. As palavras sobem e descem, consigo vê-las em formas, gestos e cores. São poéticas e duras. Um corpo assim, não pede. Manda. Não preciso dizer nada, se não ouço o que digo, o que dizes. “Você não podia, não tinha o direito”. Uma coisa assim não há. Posso esquecer, mas nunca entender. “A complexidade de ser simples”. Olho no olho, com um olho fechado. Dois é exagero, basta. Era preciso ser cego ao ser inocente, um pouco de dor pra rimar com compreender. Mas não. Extirpar tudo: dor culpa dependência inveja impotência engano tudo.
Ela repete: “Você não devia ter me matado”. Vejo nitidamente, pela primeira vez. “Foi a última vez”.
Inté...
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