domingo, 24 de dezembro de 2006

Continho de Natal

Os dois meninos acordaram cedo naquele 25 de dezembro. O clima geral fazia do dia, um dia especial. Não havia um entendimento lógico em suas cabecinhas, mas um sentimento inexplicável de paz, harmonia e confraternização. Eles não tinham a menor idéia do que eram essas coisas.
O primeiro menino levantou da cama e correu para a sala enorme e completamente decorada em vermelho e branco, bolas e estrelas penduradas e luzinhas que teimavam em piscar, desafiando a luz do sol que entrava esplendorosa pela grande janela de frente para o mar. Ficou por uns instantes paralisado diante da árvore repleta de presentes.
O segundo menino acordou mais cedo ainda. Uma buzina mais insistente o despertou do sonho estranho. Olhou para o lado e viu que o movimento na calçada era pequeno, ao contrário dos outros dias. Mas teve uma surpresa: um garoto novo na área dormia ao seu lado, numa grande caixa de bicicleta. Era preto como ele e quase da mesma idade.
O primeiro menino se atirou sobre os presentes, rasgando os papéis e passando de um para o outro com uma ansiedade que provocava sorrisos orgulhosos em seus pais. Procurava o presente, aquele que nunca tivera e faria dele um ser especial. Ninguém teria outro igual.
O segundo menino acordou o novato, e como os maiores já corriam pela rua, saíram juntos para tentar conseguir um pão ou qualquer coisa que servisse como café da manhã. Andaram, conversaram, conheceram-se e riram das estórias, de um e de outro.
O primeiro menino achou, entre tantos, o que procurava: um lindo carrinho de controle remoto, que avançava, dava ré, fazia curva, buzinava, acendia as luzes e, ainda a um toque, abria as portas e tocava música. Orgulho de todos. Felicidade do menino. Precisava mostrar, exibir. Foi com a babá para a praça.
O segundo menino e seu novo companheiro perambularam pelas ruas. Encontraram crianças sorridentes com seus brinquedos novos. Os dois também sorriam e corriam, mas ainda nada de pão. Foram para a praça, já cheia de mães alegres, babás competentes e pais envaidecidos.
O primeiro menino fazia evoluir seu carro e muitos outros o cercavam. Era um espetáculo.
O segundo menino e o amigo se aproximaram e também ficaram admirados com o carrinho do primeiro menino.
De repente o carro parou. Nada. Nem pra frente, nem pra trás. Nada de curva, portas ou música. O primeiro menino começou a se desesperar. A babá não sabia o que fazer. Os outros se afastaram e foram brincar com seus cavalos de pau, bonecas e jogos.
O primeiro menino começou a chorar, a gritar e a chutar a babá. Infeliz.
O segundo menino e seu novo amigo foram brincar no balanço. Outros vieram e apareceu uma bola, e logo se iniciou uma grande e espetacular partida de futebol. Divertida, animada, mas faltava um para completar os times. Tentaram chamar o primeiro menino, mas ele nem olhou para o jogo de bola, arrastava seu carrinho enquanto chutava a babá.

Bom Natal pra todo mundo!

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