Pichação nos muros do Rio de Janeiro que deixou todo mundo, por um bom tempo, se perguntando o que era.
Isso é uma outra história...
Pouca gente sabe, mas eu sou um mineroca. Vim para o Rio de Janeiro em fevereiro de 1978. Atravessei as serras e a distância enorme, àquela época, entre a vontade e a possibilidade de fazer filmes. De repente estava em Belo Horizonte louco para imprimir muitas ideias em celulose e sem recursos, incentivos e parcerias.
Tudo que lia sobre cinema brasileiro acontecia no Rio. Os grandes cineastas moravam no Rio. A Embrafilme era no Rio. Eu, então, vim morar no Rio.
Paradoxalmente fui fazer faculdade de comunicação, com especialização em publicidade. Achava que fazer filmes publicitários era a coisa mais próxima de realizar filmes e ainda ganhar um dinheirinho, o que era verdade, com a vantagem de poder morar em Copacabana e estudar em Botafogo. Se fosse fazer cinema ia ter que ir para Niterói. Longe demais pra um mineiro que mal conhecia a zona sul da cidade do Cristo.
Logo no primeiro dia de aula conheci um colega, Fernando Cesar Venâncio, que por sua vez conhecia todo mundo de cinema, TV e teatro. O cara era ator, fazia umas pontas nas novelas da Globo, participava de montagens de peças de sucesso e é muito boa gente, até hoje.
De cara fizemos um longa-metragem em super 8. Tempos Nublados. Eu tinha os equipamentos, ele uma estória e amigos que queriam ajudar. Me impressionou, de cara, a facilidade com que era possível juntar um bando de gente pra fazer qualquer coisa. Trabalhamos com atores como Renato Coutinho e Julio Braga, pra quem não sabe, irmão da Sonia.
Nesse primeiro ano de Rio de Janeiro pude constatar a liberdade de ser carioca, de que tanto ouvira falar, ainda lá no interior das Gerais. Uma cidade aberta para o mar é muito diferente de outra ao pé da serra.
Antes de qualquer reclamação deixo claro que amo Minas e em particular Belzonte, mas que era muito diferente era. Ainda é um tanto.
Pelo cinema fiz muitos progressos. Freqüentava a Cinemateca do MAM, as reuniões da CORSINA, não me lembro se com s ou com c, uma cooperativa de cinema de realizadores independentes, gente que já era ligada ao udigrudi e propunha um cinema novíssimo.
Duas coisas muito ruins aconteceram: a Cinemateca pegou fogo, juro que não foi culpa minha, e morreu Vinícius. Um coisa ótima aconteceu: uma das minhas ideias era fazer um filme sobre a Nair de Teffé, a Rian, uma mulher que se viva fosse hoje seria considerada avançada, mas que viveu nas primeira décadas do século 20. Pesquisem sobre ela. Um dia falo um pouco mais sobre esta pioneira, que tive a honra de conhecer pessoalmente e conviver por quase dois anos. Foi entrar na história e curtir uma incrível personagem.
Mas voltemos ao verão.
Foi no início de 1978. Já estava acostumado a ir a praia nos finais de tarde, horário de verão, acho. No Rio a gente rapidinho fazia parte de alguma coisa. E o lugar certo, claro, o posto 9 em Ipanema. Era a praia dos artistas, das transgressões, das novidades. Era onde se sabia das festas pela cidade, na casa de quem, e quem estaria lá. E em 78, os artistas freqüentavam mesmo a praia.
Então, o dia inesquecível pra um mineiro recentemente adotado, foi numa tarde qualquer, num dia de semana qualquer. Perto do por do sol conversava com vários amigos, colegas de faculdade e de praia. Aos poucos se formou uma grande roda. As pessoas iam chegando e aderindo, sentando ao lado uma das outras, sem cerimônia, na maior descontração. O sol fez sua parte e mereceu os aplausos, os gritos e assovios.
Então na grande roda alguém puxou uma música, um sucesso que poucos ainda sabiam cantar, que começava assim: "Alguma coisa acontece no meu coração, que só quando cruza a Ipiranga e a Avenida São João". Todos deram-se as mãos, sentados na areia, e soltamos a voz. Por acaso, naquela liberdade tão típica da cidade de São Sebastião, do meu lado, segurando minha mão esquerda, uma quase desconhecida, em cartaz no teatro com a peça “O fado e a sina de Mateus e Catirina”, e eleita, na encolha por um júri de apreciadores, como a mais bela bunda da praia, estava Elba Ramalho. Do outro lado, com a minha mão direita, o autor da música, Caetano Veloso.
Ainda na roda, Gal Costa e Sonia Braga.
Fazendo contas aqui agora, eu tinha por volta de vinte e poucos dias de Rio de Janeiro. E alguma coisa aconteceu no meu coração...
Isso é tudo pessoal...
Um comentário:
Quantas emoçoes Marco... realmenet varias coisas aconteceram em nossos coraçoes e mentes....
So ficoub faltando o Tio Maurilio, Teresa.. srsrs Ines(a que era outra e so depois viriamos a saber hehehe.Saudades da flor da nossa idade...
E o Fado e a Sina de Mateus e Catirina..ate hoje merecia ser remontada...e vale lembrar que Elba nessa época subistituia a Tania Alves nesta peça e ja havia feito a Opera do Malandro.
GooD Times!
Fernando Venancio
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