sexta-feira, 18 de novembro de 2011

A história de Ane 5. Aqui estamos nós...

                                                         Imagem da internet, sem créditos


Na última postagem com a história de Aniella, ela nos conta como foi sua chegada ao Rio de Janeiro, após fugir dos martírios e abusos do patrão no interior do Paraná.
Depois de se mostrar comovida com as palavras da moça, a quem acabou por oferecer uma refeição, a dona do restaurante a levou até os fundos da casa, onde seu parceiro dormia sobre uma cama rota.
As palavras ditas por Rosângela ecoavam, como presságio nos ouvidos de Ane: “este é o Washington, é com ele que você vai mudar sua vida”.

Ane se lembra perfeitamente do olhar que lhe lançou o sujeito de aproximadamente 40 anos, magérrimo, cabeça raspada,jeito elétrico e sorriso obsceno. 

“A impressão que tive, naquele momento, foi que ele havia descoberto o baú do tesouro. Mal sabia que era isso mesmo, na cabeça dele. Ele arregalou os olhos, me examinou de cima a baixo e disse: dessa vez você se superou, Rosa. Levantou-se e me fez girar à sua frente. Inocentemente me senti valorizada. Acho que desejava tanto uma chance, que não percebi as intenções”.

Dois dias depois, acomodada em um quarto amplo e limpo, Ane foi levada a um consultório médico, onde passou por um exame detalhado. “Achei estranha a primeira pergunta que o Washington fez ao médico, se eu estava grávida. A resposta do doutor foi: aparentemente não, só os exames de laboratório podem dizer, mas ela está perfeita, pronta para ir a luta. Na hora pensei comigo: eles nem imaginam como estou pronta”.

Roupas foram compradas, cremes e shampoos, roupas íntimas ousadas. Aniella sentiu-se, por alguns momentos, como uma filha bem cuidada.

Perguntei-lhe se não desconfiava de nada. “Tinha 17 anos. Vinha de uma roça distante onde só fui maltratada. Acho que não queria acreditar em coisa ruim. Meu desejo de alguma felicidade era tão grande, tão grande, que via tudo como um presente, o primeiro que recebia”.

Em 10 dias, mais ou menos, Ane foi levada por Washington a um hotel, onde esperava por eles um senhor muito parecido com seu algoz, o filho do dono da fazenda onde nascera. Apavorou-se e tentou escapar. O homem se revoltou com Washington e saiu do hotel imediatamente. Por causa disso... diz ela: “Fui trancada no quarto, sem comida e água por dois dias inteiros. Ele, o Washington disse que só não me espancava pra não estragar o que eu tinha de bom”.

Depois disso, vencida em sua resistência, ameaçada de ser mandada pra fora do país, como forma de ressarcimento, Aniella se convenceu de que apenas mudara de local, mas pra mudar de condição teria um longo caminho.

Ela encerra esse episódio: “Uma determinação nunca imaginada tomou conta de mim. Não sabia como e nem quando, mas jurei que não viveria muito tempo daquele jeito. Ia aprender, como se tivesse fazendo um curso de sobrevivência, e sair para uma nova vida, com dignidade”.

Mal sabia ela o quanto ia custar...

Falei com o Washington. Esta conversa será parcailmente reproduzida na próxima postagem.


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