quinta-feira, 9 de novembro de 2006

Da série Admiráveis encontros 2

Ao longo dos tempos, em situações completamente prosaicas, sem nenhuma preparação ou arrumação, mantive inopinados encontros com pessoas, que considero estelares. Algumas que sempre admirei, outras pelas quais sempre tive certa queda, e ainda, uma ou outra que gostaria não ter encontrado.

Este segundo caso aconteceu em Belo Horizonte. Não me lembro exatamente o ano, mas foi ali por 1986, 87. Fui a capital mineira participar de um filme, por sinal, adaptado do romance de Osvaldo França Júnior: Jorge, um brasileiro. Vou chamar de:

Tocando de ouvido:

Estávamos todos, elenco e equipe do filme, hospedados em um grande hotel, no centro da cidade. Passávamos os dias preparando as filmagens, vendo locações, decidindo figurinos, escolhendo atores e atrizes para o segundo elenco e figuração, escolhendo objetos de cena e acompanhando a construção de cenários. Minha atribuição, como Diretor assistente, naquele momento era entrevistar candidatos a pequenos papéis. A fila era enorme e, como grandes produções audiovisuais na cidade eram raras, a ansiedade dos pretendentes era ainda maior do que a fila. E toda a energia e esperança deles era, de alguma forma, transferida para mim. Ou seja, ao final do dia voltava para o hotel louco por um pouco de paz, correndo das palavras e dos sons humanos em geral.
Normalmente nos reuníamos no restaurante para um jantar em equipe. Meus companheiros de mesa, invariavelmente eram o diretor e o ator Carlos Alberto Ricceli, grande figura. Às vezes juntavam-se a nós a Bruna Lombardi, linda e simpática e a Glória Pires, outra simpatia.
Numa dessas noites, no entanto, cheguei arrasado depois de um dia com muitos problemas na produção. Me dirigi ao restaurante, mas não havia ninguém da equipe ou do elenco. Restaurante cheio, apenas uma mesa vazia. Fiz meu prato e agradeci aos céus por não ter que falar com ninguém. Pedi uma cerveja e pensei: se aparecer alguém serei mal educado, foda-se!
Nem bem dei o primeiro gole, entra no salão um negro enorme, com uma camisa de turista americano. Fez o prato e nem precisou procurar um lugar, veio direto para a minha mesa.
- Good night. – me saudou com um sorrisão.
Pensei: caraca era só o que me faltava um negão americano. Bom pelo menos não preciso falar com ele, já que sou analfabeto no idioma. Dei um sorriso e voltei ao prato e ao copo.
O cara me fez uma pergunta. Sorri e arrisquei:
- I don’t speak english.
Aí foi ele quem riu e danou a falar. Parecia um velho amigo contando uma aventura vivida em terras estrangeiras. Falou e comeu, comeu e falou. Captei algumas palavras, como: show, night, friend, later, theater etc.
Com a cerveja e a animação do companheiro de jantar, comecei a falar também. Contei para um atento ouvinte o que estava fazendo na cidade, contei a história do filme, que trouxemos um ator americano, tudo em português. Ele ria e dizia: ok, yes, ok, yes. E assim levamos com muito humor e muitas mímicas, umas duas horas de animado papo.
Lá pelas tantas apareceu alguém procurando por ele. Era um brasileiro, que me cumprimentou e se dirigiu a ele em Inglês. Conversaram. O negão se levantou, me deu um abraço caloroso e pediu para o outro me dar alguma coisa e saiu.
O sujeito procurou num envelope e me passou dois papéis. Agradeci e me sentei. Aí li no bilhete, algo assim: Palácio das Artes – dia tal – hora x – Platéia.

Show com Dizzy Gilespie

Olhei para a porta ainda a tempo de ver o meu “grande amigo” dando alguns autógrafos, para fãs que vibravam por ficarem, por alguns segundos, ao lado de um dos maiores músicos de todos os tempos.
Adorei o show e mandei para o quarto dele, uma garrafa da nossa melhor pinga e um cartão agradecendo o convite. O cartão era bilíngüe, com a ajuda de uma amiga.







Dizzy Gillespie (1917-1993)
É um dos mentores do bebop, um dos criadores da linguagem do trompete jazzístico moderno, e um verdadeiro embaixador da música. Os únicos trompetistas que se equiparam a Dizzy, em termos de importância musical e histórica, são Louis Armstrong e Miles Davis.
Nascido em Cheraw, Carolina do Sul, John Birks Gillespie experimentou o trombone antes de se decidir aos 12 anos pelo trompete, instrumento com o qual se iniciou profissionalmente aos 14. Tocou em diversas orquestras, na segunda metade dos anos 30 e na no início dos anos 40, como as de Frankie Fairfax, Cab Calloway, Benny Carter, Lionel Hampton,
Duke Ellington, Teddy Hill e outros. Dizzy teve como grande modelo o trompetista Roy Eldrige, a quem inclusive substituiu na Teddy Hill Band, em 1937. O jeito irreverente e as brincadeiras que fazia com colegas e mesmo com os próprios regentes lhe valeram não poucas reprimendas e até demissões. Dizzy era um instrumentista virtuoso e um improvisador dotado. A juntar às suas capacidades instrumentais, os seus óculos, a sua forma de cantar e tocar (com as bochechas extremamente inchadas), o seu trompete recurvo e a sua personalidade alegre faziam dele uma pessoa especial, dando um aspecto humano àquilo que muitos, incluindo alguns dos seus criadores, classificavam como música assustadora.
Em relação à forma de tocar, Gillespie construiu a sua interpretação a partir do estilo "saxofónico" de Roy Eldrige indo depois muito além deste. As suas marcas pessoais eram o seu trompete (com a campânula inclinada 45º em vez de ser a direito) e as suas bochechas inchadas (tradicionalmente os trompetistas são ensinados a não fazer “bochechas”).

Um comentário:

Anônimo disse...

É sério que esse tipo de sorte existe?

um abraço

eloise