domingo, 19 de novembro de 2006

Um novo herói

Apresento a vocês um novo herói. Acho que seria melhor apresenta-lo como um possível futuro herói. O Aurélio diz que um herói é:

1.Homem extraordinário por seus feitos guerreiros, seu valor ou sua magnanimidade.

2.P. ext. Pessoa que por qualquer motivo é centro de atenções.
3.Protagonista de uma obra literária.

Assim vai depender dos feitos do nosso homem e da paciência e boa vontade de vocês, que em última instância darão a ele, ou não, o título, por merecimento.
Espero é que ele possa mostrar como ser sagaz, sem perder a ternura.
Então coragem...


Um crime literário

Você certamente não ouviu falar no meu nome, ainda. Não precisa se sentir mal informado, ou uma pessoa por fora. É que eu trabalhava longe dos holofotes, protegendo sua vidinha pacata, de poucas emoções. Durante anos fui de uma força especial da Polícia Civil, ultra secreta, trabalhando diretamente com a Secretaria de Segurança. E onde também, em pouco tempo entendi de que lado está a lei. Se não como explicar o que se vê por aí?
Fui “saído” da polícia e desde então me passa pela cabeça viver um pouco a vida que ganhei de presente, mais ainda, depois do caso que provocou a crise, em que meu parceiro e eu, enfrentamos uma sangrenta guerra com traficantes internacionais, levei um tiro e ainda fomos acusados de achacar os caras. Mas essa é uma estória para esquecer, assim como a cicatriz no ombro direito.
Como personagem espero ter a chance de fazer algumas coisas, das quais possa me orgulhar, e ver meu nome impresso em qualquer que seja o papel, mas acompanhado pelos adjetivos certos.
Ah sim, meu nome completo de batismo é José Silva. Reconheço ser um tanto, diria, comum, sem o som especial que da aos donos dos nomes a importância e o destaque de grandes figuras no cenário social, do qual estamos acostumados a ouvir falar. Mas prefiro assim.
Esta estória que será contada a partir de agora, começou logo depois que eu e meu parceiro, Dimitre, fomos expulsos da polícia:
Estava em casa, no bairro de Brás de Pina, e espero que o endereço comprove minha total isenção no caso citado, quando o celular tocou. Era a Beatriz, uma jornalista reconhecida e minha conhecida, que em algum momento poderia ter sido íntima, mas as notícias não foram nada boas...
Marcamos o encontro no centro. Pediu-me para ligar assim que chegasse ao local combinado, mas como não tinha crédito no celular tratei de firmar local e hora.
Beatriz estava linda e deliciosa em seu vestido de verão, vermelho com pequenas bolinhas brancas, cavado no decote e nas mangas, deixando à vista, a qualquer gesto, suas maravilhosas axilas. Os olhos sempre úmidos e curiosos anteciparam o mistério. “O crítico de literatura do jornal em que eu trabalho foi assassinado.” E me contou com detalhes, e não pude deixar de perceber uma ponta de satisfação. “A polícia está investigando e as evidências incriminam o Raphael Lacheter, escritor de contos policiais.” “Amigo seu é claro.” Eu disse.
Ela não confirmou apenas acrescentou: “Tenho certeza de que não foi ele, não o Rapha.” “E por que a certeza?” Insisti. “Não seria capaz...”
Fomos interrompidos por uma chamada no celular dela e por uma saída rápida.
A primeira coisa a fazer era uma visita ao quase famoso Raphael Lacheter, é o que eu falava aquilo sobre os nomes.
Com a menção do nome de Beatriz, não tive dificuldade para entrar na residência do escritor. Uma empregada, uniformizada, me recebeu numa pequena sala, que parecia mínima pela quantidade de móveis de estilos variados e gosto duvidoso. Pediu-me para aguardar e sumiu por um corredor. Passei os olhos pelas paredes e um quadro se destacou, tinha uma citação em letras góticas: “Críticos são como eunucos num harém. Eles sabem como a coisa é feita, mas eles mesmos são incapazes de fazer.”
Nesse instante um sorridente homem de uns trinta e sete anos, entrou na sala, trajando um magnífico paletó de tweed, sobre calças de flanela cinza, tudo no melhor estilo europeu, apesar do calor que fazia no resto da cidade. Trazia um cachimbo pendurado no canto da boca. Olhou instantaneamente para minha surrada bermuda, os tênis e a camiseta preta onde estava escrito “Paragrafe-se”, seja lá o que isso quer dizer. Estendeu-me a mão macia, úmida e frouxa. Com gestos me conduziu até seu escritório.
“O senhor matou o crítico?” Perguntei assim que me acomodei em uma cadeira de palhinha, enquanto ele alisava as calças, depois de colocar o joelho esquerdo sobre o direito.
Os próximos trinta minutos passei olhando para um rosto que variava a expressão a cada frase, compondo um espetáculo de representação como nunca havia visto, digno de reconhecimento. “Um verdadeiro artista.” Pensei. Para o gran finale, me presenteou com seu último livro, autografado, e uma cópia da crítica, a última da vítima, por mera coincidência, segundo ele.
Parei no primeiro bar, pedi uma caipirinha de lima, e comecei a ler o livro. Duas horas e quatro caipirinhas depois, tinha lido cinco capítulos e a crítica, e já havia resolvido o caso.
Procurei no bolso um cartão de telefone e, acredite, consegui achar um orelhão funcionando ali por perto. Fiz duas ligações, uma para a polícia e depois para Beatriz: “Já soube que você esteve com o Raphael.” Ela disse apressada. “Hum, hum.” “Ele disse que contou tudo e que gostou de você.” “Hum?!.” “Então, você acha que pode ajudá-lo a provar a inocência?” “Beatriz,” disse com minha melhor voz e a entonação mais neutra que consegui achar, “eu sinto muito.” Aguardei uns segundos e desliguei. Voltei ao bar e pedi mais uma caipirinha. Nunca mais falei com a Beatriz. Acompanhei a prisão do escritor, que até rendeu certa mídia. O caso era uma simples questão de merecimento, os dois mereceram. O livro coloquei numa estante que tenho em casa, onde guardo algumas pastas com recibos, manuais, certificados de garantia, um lugar bem seguro.

Antonio Más
15/11/06

Um comentário:

Anônimo disse...

Que porra de herói filha-da-puta que não protege os assassinos de críticos!!