sexta-feira, 30 de março de 2007

Enfim...

O Sobrenatural de Almeida atacou o blog! Fui corrigir uma palavra, entrei em editar postagem, fiz a correção mandei publicar e só apareceu o título. Desapareceu. Coisas da informática.

Quero contar um caso completamente urbano, desses que há dez anos, não aconteceria de jeito nenhum.
Peguei um ônibus na praia do Flamengo em direção a Copacabana. Final de tarde, carro lotado, gente cansada saindo do trabalho e se arrastando pra casa. O ônibus tinha ar condicionado, e não sei bem porque o carioca rende certo tributo ao ar condicionado. É só prestar atenção como se respeita, se fala baixo, não se ouve uma gargalhada. Ao contrário daqueles sem ônibus sem ar. Nesses os passageiros incorporam o espírito sem cerimônia do verão, do calor e soltam seus demônios, suas indiscrições e a coisa vira um mercado livre.
Mas no tal dia, ao passar pela praia de Botafogo, entrou uma passageira muito especial: loira, bem vestida, cabelos brilhantes e um celular grudado na orelha. Já entrou com a conversa pelo meio:
- Ta certo Rafael...
- .......
- Rafael, eu sei, eu sei, já falei...
- ......
- Pelo amor de Deus, Rafael.
- ......
- Rafael escuta. Você não me deixa falar Rafael.
- ......
- Desde ontem Rafael...
- ......
- Meu Deus, Rafael.
E assim continuou, em alto e bom som por todo o percurso. Entramos em Copacabana, Barata Ribeiro engarrafada, desceu e entrou gente e a loira, lá na frente, com o Rafael pendurado na orelha e pontuando as frases.
O mais incrível é que ninguém parecia se incomodar. Não se falou uma única frase em toda a viagem. Todos seguiam aparentemente com seus problemas, seus pensamentos, ignorando o Rafael.
A loira levantou-se, passou pela roleta e caminhou para os fundos do ônibus.
- Assim não Rafael.
- .....
- Posso falar Rafael?
Tudo indicava que a moça e o Rafael saltariam no próximo ponto. Foi como uma torrente de insatisfação, um desabafo literalmente coletivo. Posso afirmar que todos, jovens, senhoras e senhores, todos falaram ao mesmo tempo. Ouvia-se de tudo: “Que Rafael é esse?” “Que absurdo”. “Não se tem mais privacidade”.
Ao meu lado uma senhora muito idosa, foi talvez a única que se manteve neutra, olhar fixo à frente, reprovando tudo sutilmente.
Enquanto o ônibus achava espaço junto ao ponto, e a loira tentava convencer o Rafael a ouvi-la, um gaiato desabafou por todos nós:
- Alô Rafael, gritou ele do fundo do ônibus, vai tomar no cu!
A gargalhada foi geral. E pela primeira vez a minha idosa vizinha olhou na minha direção e não conseguiu segurar o riso. Falou apertando os lábios:
- Bem feito...

Isso é tudo pessoal...

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