Semana santa sempre foi um momento intenso na minha vida. Quando era criança e o feriado era a semana inteira, vivia a expectativa da chegada dos parentes. Iam lá para o interior de Minas, irmãos, tios, primos e as primas. As primas sempre faziam o maior sucesso. Meus irmãos e eu namorávamos seriamente com elas, para desespero dos mais velhos. As procissões serviam como álibi para os encontros. Saíamos separados, elas com as mães e nós, os meninos, cada um por si. Lá pelas tantas era um tal de vou comprar vela, e o encontro se dava atrás de alguma igreja, longe dos olhares dos beatos que seguiam contritos os passos do senhor. E era tão frio. Aquela fumaça saindo pela boca, esquentando ainda mais os beijos desesperados, os suspiros de amor e deliciosa sensação do proibido, do pecado. Na maioria das vezes as primas eram mais velhas e mais experientes, o que dava um sabor especial à conquista.
O melhor dia era a terça-feira, quando acontece a procissão do encontro. Os homens seguem o Cristo por um caminho e as mulheres seguem Nossa Senhora por outro. Em dado momento as procissões se encontram, ou seja, a mãe encontra o filho a caminho do calvário. Mas na verdade se dava o grande encontro dos apaixonados. Durante todo o percurso vivíamos a angústia e expectativa do encontro. O grau de dificuldade era alto, pois as mães e tias marcavam sob pressão, principalmente as meninas, mas sempre se dava um jeito e lá íamos para as ruas laterais, becos mais escuros e portais protetores.
O pior dia era a sexta-feira. Dia da paixão, mas só do Cristo. É uma encenação triste, o enterro de Jesus, com uma música fúnebre e ambiente carregado. Antes da meia noite nada fazíamos, era um grande pecado, uma culpa mais pesada do que a cruz do senhor. Acompanhávamos a procissão evitando os olhares, os flertes, o quanto era possível e, claro, isso aumentava a vontade e a libido. Quando terminava a última cena, depois da crucificação, que tiravam a imagem da cruz e sepultavam, havia um frisson, dali pra frente era só antecipar a aleluia. A festa, o carnaval do sábado começava ali, na praça, pouco depois da mia noite e era vital, pois também prenunciava o fim do feriado e viagem para longe, amores separados pela distância e pelo tempo. Um ano, muitas vezes. E tudo podia acontecer em um ano, o maior espaço de tempo que uma cabeça de adolescente podia contabilizar.
E o ano passava e tudo voltava a acontecer. Até que muitos anos passaram e tudo virou lembrança. Ótimas lembranças. Amém.
Isso é tudo pessoal...
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