Jurei a mim mesmo não entrar nessa discussão do livro eletrônico. Afinal, o que interessa mesmo é conquistar eleitores, ops, leitores. Então não importa o suporte, não é mesmo?
Mais ou menos, ou seja, entrei na onda.
Desde que o tal do Gutenberg inventou lá a máquina de imprimir letras, que lemos o que se escreve. Aprendemos a reconhecer os signos ligados entre si, e nunca mais deixamos de ler. Mesmo sem reconhecer os tais símbolos, quando estamos, por exemplo, em países cujas línguas nos são mais ou menos estranhas, claro não falo de Japão e China onde nada nos é familiar, lemos com afinco aquelas palavras que nada significam se não estiverem ligadas visualmente a algo reconhecível. Por exemplo se mészárszék, não estiver sobre uma fachada onde embaixo vemos carne crua, jamais saberíamos que açougue em húngaro se escreve assim.
O que nos importa mesmo é o conteúdo. Somos mais ou menos exigentes, conforme a formação, o interesse e as “possibilidades”. Fora isso, o que dizer, vai acabar o livro tal como o conhecemos?
Sinceramente, não vai não. Pelo menos neste século. Primeiro que tem livro pra caramba por aí, até que se acabem, vai demoraaaaaaaa... Depois, sempre terá alguém para colecionar, museus pra reverenciar, maluco pra imprimir, etc e tal.
Os leitores eletrônicos, só li até hoje no Cooler da Gato Sabido, trazem muitas vantagens, as conhecidas como armazenamento de milhares de títulos, portabilidade, interação, multiplicidade de aplicativos e mais um etc e tal pra aquelas que ainda não conhecemos.
Mas também tem muitas desvantagens, coisas que serão, mais cedo ou mais tarde resolvidas, mas que por enquanto são grandes problemas. Tipo: Caiu água, caiu no chão, esqueci no sol ou na chuva, além de ser bem mais roubável do que um livro modelo antigo. Não dá pra deixar bilhetes, fotos ou a velha flor entre as páginas, não podemos dedicar a uma amiga o livro que lemos e achamos que ela vai gostar ou se impressionar.
No final de 2010 dois amigos estavam felicíssimos com seus novos brinquedos. Ela comprou tudo o que era oferecido em português, pouco. Ele, mais sofisticado assinou jornais, revistas e adquiriu muitos livros em inglês e francês. Viajaram, ele pra serra, ela pra praia. Orgulhosos se despediram deste sem e-reader. Fiz minha mochila de livros, como sempre, um peso danado de bom de carregar. Modestamente levei os cinco livros que ganhei de natal, entre eles um tijolão de quase mil páginas.
Agora, início de fevereiro, nos reencontramos saudosos dos papos literários, das trocas de impressões sobre as leituras realizadas e do bom humor natural que nos une.
Ela estava triste, muito triste. Não conseguiu ler nenhum dia na praia, por dificuldade na visualização, com medo de areia e maresia no objeto tão caro e de resistência aparentemente frágil, ninguém testa, assim como os airbags dos carros. Em casa, no conforto das poltronas e do colchão entre travesseiros, sentiu a nostalgia de virar as páginas, coisa boba, mas estranhamente significativa pra quem há anos gosta de livros.
Ele estava de muito mau humor. Assim que chegou a bela casa entre as montanhas, tirou seu aparelho da mala e bateu, sem querer, claro, com ele na ponta da lareira. Não aconteceu nada de mais, apenas alguns, uns três ou quatro pixels, “estouraram”, foi assim que ele descreveu e ficaram espalhados pela tela, como faróis brilhando sobre as letras, que desafortunadamente, coincidiam com eles. Impossível de ler, de olhar fixamente aqueles pontos brilhantes.
Uma pena. Só eu pude falar de minhas leituras e indicar os quatro livros que saboreie em pouco mais de um mês.
Como amigo é pra essas horas, emprestei os LIVROS pra que meus queridos amigos pudessem finalmente ler.
Um dia eu, você, nós todos teremos nossos leitores eletrônicos. Mas ao sair da cidade, eu pelo menos vou levar um livrinho que seja, no fundo da mala, como quem leva o seu velho e puído ursinho escondido dos amigos e da namorada, mas na calada da noite, só dorme agarrado a ele.
Isso é tudo pessoal...
Um comentário:
Eu tenho uma dependência emocional do objeto livro. Quando me mudo, é o que sai primeiro das caixas. Ainda cercada de bagunça, se os livros estão postos, a casa já se fez mais minha. Os livros me ambientam. Como ter os amigos à mão.
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