Vou falar hoje do lado coroa da mesma moeda. Não na conotação de mais velho, e sim no sentido do administrador. Aquele,
que ao contrário do outro, nunca mostra a cara.
Estou falando da figura do Washington.
Este sujeito não é do tipo com o qual se senta para
levar um papo, ou fazer uma entrevista. Só pude chegar até ele por meios de
subterfúgios que a própria Aniella orquestrou, quando disse a ela que seria
fundamental ouvir este personagem. O encontro se deu em uma padaria, tipo
lanchonete, em pé diante do balcão, frente a duas xícaras de café. Estou falando da figura do Washington.
Pouco vamos saber sobre a vida privada desse cara muito magro, agitado como se algum dia fora vítima de uma descarga elétrica. Só cheguei, a saber, que é filho de pai desconhecido e de uma técnica em enfermagem, que se aposentou em um hospital público. Teve ou tem uma irmã, que segundo ele, se desentendeu com a mãe e caiu na vida. “Não faz o Rio de Janeiro a vagabunda, se não eu saberia”. Mais nada além disso.
Sobre seu ofício, considera um trabalho como outro qualquer, não obstante, reconheça algumas ilegalidades. No único momento em que riu, afirmou: “Já estive na “colônia de férias” por causa disso, mas só de passagem”.
Outra coisa que diz é: “Nunca obriguei ninguém a entrar nessa vida. As meninas ficam loucas pra começar logo, arrumar alguma grana, pagar uma dívida, dar algo ao filho. Todas querem pra ontem. E vou lhe dizer: falo tudo o que vão ter que fazer. Nesses anos todos só umas duas, depois de saber qual era o trabalho, sumiram. A maioria até fica meio assim, mas acaba topando. Não tem solução. O que podem fazer?”.
Perguntei: Você trabalha por conta própria, ou pra alguém? A resposta: “Ô malandro, ta achando o quê? Isso é profissional, coisa de empresa multinacional. Quem sou eu...”
Dá dinheiro, quanto por mês, em média? “Ta brincando? Milhões, muitos milhões. Mas não sei ao certo não”.
O celular dele tocou. Falou por uns minutos e se despediu: “Vou nessa, tenho uma entrega”.
Antes mandei uma última pergunta: Que nome você dá a sua profissão? “Cara, sou um manager. Ah, também aquele que leva o prazer”.
Sem dizer mais nada partiu com o celular grudado na orelha, acertando os detalhes da “entrega”.
Antes de publicar aqui, conversei com a Aniella e
lhe mostrei o que gravei sem que ele soubesse. Ela apenas disse uma frase:
“Se existe
monstro nesse mundo, essa é a voz dele”.
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