quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Um exemplo pela janela. Aqui estamos nós...


Há dias durante o almoço, minhas duas filhas, 15 e 12 anos, perguntavam sobre este trabalho que desenvolvo agora. Queriam saber do que falava o Aqui estamos nós... A mais velha lê regularmente o blog, comenta e até compartilha nas redes sociais.
Como de costume, nossas conversas à mesa se prolongam além do cotidiano. Falamos de tudo em papos abertos e esclarecedores. Expliquei a motivação, em parte, exatamente por ser pai de duas garotas que começam a “sair” para a vida, a “trocar” socialmente.

Falei um pouco das pesquisas realizadas por entidades e órgãos oficiais, contei casos conhecidos, mas mostrei também as conquistas, os avanços e os exemplos.
Em casa, as duas tem um ótimo exemplo, a mãe médica que trabalha fora e ainda cuida da casa e é absolutamente presente na educação e na formação de ambas.

Dias depois tivemos, ao vivo, bem debaixo de nossa janela, em Ipanema, o exemplo negativo:
No final da manhã ouvimos gritos vindos da rua. Uma voz desesperada de mulher protestava contra alguém que ameaçava a amiga. Curiosos, chegamos a tempo de assistir a todo o desenrolar da cena. Um homem negro, muito forte e bem vestido, segurava uma moça loira,  aparentemente drogada, ou alcoolizada. A outra, que se manifestava, dizia que ia chamar a polícia, que ele largasse a amiga, que parasse de agredi-la, que era um covarde.

Logo juntou uma pequena multidão para assistir, à distância, o triste espetáculo.  O homem tentava se desvencilhar da amiga e puxava com força a loira, que acabou caindo de costas na calçada. Nesse momento chegou um carro da polícia militar. A amiga disse ao homem: “agora vai se ferrar, acabou de agredir ela na frente da polícia”.
O policial desceu, com a arma na mão. Pra nosso espanto, repreendeu a amiga e a afastou do casal. Inconformada a moça gritava o absurdo da situação. O policial falou com o homem, pararam um táxi, o homem enfiou a loira no banco de trás e entrou em seguida . Com a “proteção” do policial o táxi partiu. O policial voltou-se para a amiga e mandou que ela calasse a boca e fosse cuidar da própria vida.

Minha filha ficou num estado de indignação compatível com o que acabara de ver.  Experimentava, pela primeira vez, a sensação dolorosa de impotência.
Falamos muito sobre aquele exemplo, de como a coisa funciona, bem ali debaixo da janela. De como estamos distantes da justiça e presos a esta maldita cultura de impunidade, principalmente quando se trata de violência contra a mulher.  
Mas nem tudo está perdido. Minha filha concluiu com a frase: “Enquanto precisarmos de proteção nada vai mudar. Temos é que virar esse jogo”.

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