terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Aqui estamos nós...

                                                           Foto da internet, sem crédito.


Aniella conta como é a vida na pensão, onde se juntam várias moças, todas cheias de sonhos e esperança, como ela diz: “Não tem diferença nenhuma dessas pensões pra estudantes, imagino. São os mesmos sonhos e desejos, ser alguém na vida. O que muda é que enquanto elas, as estudantes, recebem conhecimento e educação, nós, as prostitutas, damos o pouco que temos, principalmente a saúde”.
Diante da pergunta de como é o dia a dia na pensão, Ane muda de expressão e deixa transparecer a menina, como se recuperasse aqueles anos roubados.
“Todas consideram estar em um lugar transitório, em um momento de passagem para a sonhada liberdade e uma vida justa e tranquila. Vivemos das boas lembranças que conseguimos preservar apesar de tudo. Nossas vidas cabem dentro de caixas de sapato, velhas bolsas, caixinhas de música, um pé de meia. São as reminiscências do passado ainda tão próximo e vivo, intimidades escondidas, que nas horas de desespero visitamos, para lembrar que já existiu uma outra vida. E então confirmar que é possível reconquistar”.
Quem acrescenta é Bárbara, uma novata de quem é impossível saber a verdadeira idade. Um corpo jovem que se desfaz rapidamente, transbordando mágoa e ressentimento:
“O pior, amigo, é acordar de manhã e esperar a hora em que os animais aparecem doidos pra mostrar que são mais fortes e que a gente não passa de lixo, onde podem cuspir e botar toda a sujeira deles”.
Gabriela, a mais velha de todas, “cinquenta e dois anos, com muito orgulho e tesão”, se apresenta, ri com vontade de Bárbara. Fecha essa conversa com uma fala surpreendente:
“Não sei do que elas se queixam, todas tem uma vida boa e estão aqui porque querem. A porta está sempre aberta. Mas sabe por que não vão? Eu sei, porque não fui. Porque não vão achar nada lá fora, a família chutou, botou pra fora. Os amigos fingem que não conhecem. Os vizinhos riem e viram a cara. Aqui, pelo menos, de vez em quando alguém nos dá o que nunca tivemos; carinho e atenção. Mesmo quando dói”.


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