quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A história de Aniella 6. Aqui estamos nós...

Aniella continua o relato sobre seu destino, nem sempre fácil de ser mulher. Conta os primeiros dias sob as ordens de Washington, quando percebeu, definitivamente, que a muitas mulheres a vida não fazia concessão.



“São vistas como objetos de prazer pela maioria dos homens. E um ótimo negócio para alguns”.

Após o castigo, quando permaneceu por quarenta e oito horas sem comida, trancada no quarto da pensão, foi vestida, maquiada e levada a rua com outras quatro mulheres. Começava o trabalho.

“Não posso negar que achei o vestido lindo. Vermelho, muito justo e curto. Tinha um franzido nas laterais que ajudava a realçar a silhueta. Calcei uma sandália de couro, tipo gladiador, com as tiras amarradas pouco abaixo dos joelhos. O cabelo estava curto e, a pedido do Washington, foram improvisadas duas tatuagens; um ramo de flores na batata da perna esquerda e uma serpente cuja cauda insinuava-se pela alça do vestido, no ombro direito. Segundo ele, os homens tem fetiche com tatuagens. Não sabia muito bem o que aconteceria, o que devia fazer e como seria abordada. Juçara, a gerente, que já passara por tudo aquilo deu as dicas, me forneceu as camisinhas, um tubo de gel lubrificante, e disse que fosse afável e jamais ficasse de conversa. Nunca poderia revelar minha identidade verdadeira e, muito menos, dizer onde morava. Quanto mais rápido o programa melhor, mais clientes por noite, mais ganhos. Washington nos levou até a rua. Cada uma tinha um território demarcado e era importante manter o lugar, no futuro seríamos procuradas naquele espaço, por clientes preferenciais. A única dica de consolo do nosso “manager”, como ele se denominava, foi pra ligar se algo de muito grave acontecesse. Mais tarde perguntei o que poderia ser o, algo muito grave, e uma das meninas explicou com simplicidade: ameaça de morte, essas coisas"!


Na primeira noite, talvez por ser uma novidade naquele espaço, Aniella foi bastante assediada. Fez programas com três homens. Disse: “Cheguei a achar que não seria tão difícil aquela vida, os três foram muito educados. Um deles até me deu um pouco de prazer, quase me fez esquecer onde estava”.

Mas, infelizmente, as experiências futuras não seriam nada agradáveis. O “manager” marcava em cima e, na volta pra pensão, lá estava ele pra receber o faturamento. Sabia exatamente com quantos cada uma havia saído e questionava a duração, sempre reclamando. Usava o jargão empresarial de “meta a ser atingida”. Em sua avaliação, a média de cinco por noite, era a ideal.

Sobre isso, Aniella finaliza:
“Logo se descobre a mercadoria que se é. Nossos desejos e necessidades não contam, o que vale é a performance, o faturamento. Tudo pra, no final do mês, receber o que restou depois dos descontos de moradia, alimentação e remédios. Ao receber a primeira vez fiz a conta de que, se mantivesse a média exigida, talvez em vinte anos conseguiria juntar um mínimo pra sair daquela vida, provavelmente com um dinheirinho pra tratar o que restasse da saúde”.

Nos próximos episódios, Aniella e outras relatam o dia a dia na pensão, quando todas tentam fingir um mínimo de normalidade e felicidade. Cada uma, a seu modo, guarda as lembranças de um tempo em que a vida parecia um lugar bom pra se estar.

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