
Aconteceu de manhã. Bem cedo. Naquela hora que ainda é noite, mas já é manhã do outro dia, quando mais uma vez as intenções, os desejos, as expectativas, se encontram no contra fluxo e nem se falam ou acenam, ou se olham. São “gentes” diferentes: sol e lua, dia e noite. Foi assim que aconteceu: Ela descia a rua, sapatos de salto alto na mão. Pés no chão, cabeça nas nuvens. A Outra, subia a rua. Tudo no chão, o peso nos ombros. Cruzaram-se e nem se perceberam. Não precisava já sabiam quem era uma e quem era a outra, sem nem se conhecer e jamais iriam se entender. Uma levava uma vida, a Outra levava outra vida. Distantes, inversas, opostas. Mas o som no silêncio da hora, pequenininho, quase nada, ligou os sentidos. Quem mais poderia usar o berloque no tornozelo? Um passo a frente e o olhar para a direita, olhar para a direita. Para baixo. A calça tapando e a minissaia expondo. O som idêntico. Coincidência! Do que seria feito o dela? Correntinha de prata, guizo idem, não pode ser igual a minha, pensou a Outra. Feita com desejo, para marcar, diferenciar, anunciar, pensou Ela. O olhar subiu. Olhos nos olhos. Diferentes em tudo: cabelo, cor, altura, jeito, atitude, ah, a atitude. Ganhou do marido enrustido pensou Ela. Recebeu em pagamento, pensou a Outra. Ela sorriu, não, riu. Riu do pensamento imaginando a Outra recebendo o bibelô do marido e perguntando: igual o sininho da vaca? E a Outra apertou os olhos, imaginando quando Ela recebeu: é pra minha cascavel! O guizo do veneno. Veneno, venenosa.
Um último olhar. Ela descia, a Outra subia. Duas certezas, uma sentença: coitada dela.
iSSO É TUDO PESSOAL...
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