domingo, 22 de maio de 2011

Vida de escritor (1)

Não acordei um dia e disse a mim mesmo: vou ser escritor.
A frase começa propositalmente com uma negativa. Uma das “prerrogativas” de viver do ofício de escrever é aprender a conviver com o NÃO.
Isso começa já na tela, ou no papel a nossa frente: isso NÃO está bom, NÃO é assim. Logo uma série de pessoas vão repetir esta palavrinha terrível muitas e muitas vezes pra quem passou horas com os cotovelos apoiados em mesas, prontos para a LER (lesão por esforço repetitivo).
É claro que como em qualquer profissão escrever tem suas graças, seu charme e com muito esforço e trabalho, bons contatos e um mínimo de sorte, ganha-se algum dinheiro. Falar de vida de escritor deveria vir no plural, vidas de escritor. Há uma enorme diferença entre aqueles considerados pelos críticos; os que vendem, mas os críticos torcem o nariz; os muitos que já publicaram por editoras médias, ou pequenas e ainda não são conhecidos além do seu pequeno ciclo de familiares e amigos e, finalmente, uma centena de milhares que escrevem em blogs, e enchem seus arquivos pessoais nos PCs, de páginas e mais páginas, cujo sonho maior é ver seu livro em alguma vitrine. Existem ainda os representantes desta última categoria que pagam, e bem, pra ter este gostinho. Na maioria das vezes efêmero e triste, quando o livreiro liga para devolver os três exemplares que ficaram por lá, em consignação, meses e sequer foram folheados.
Vamos falar um pouco de cada um deles, mas o que nos interessa aqui é percorrer este campo vasto, cheio de possibilidades e armadilhas, que a cada dia aumenta mais seu contingente de aspirantes a um lugar confortável nas estantes e nos tablets.
Posso afirmar que não é uma vida fácil, mas existe vida fácil pra quem realmente trabalha? Asseguro ainda que é o tipo do trabalho que tem lá suas vantagens, como não precisar bater o famigerado ponto, poder trabalhar onde e quando quiser e participar de festas literárias. Isso, claro, para os poucos reconhecidos.
Pra viver tudo isso e disso tudo é preciso antes observar um detalhe fundamental: tornar-se um escritor, ou escritora de verdade. Viver do ofício. Ganhar dinheiro com o trabalho de escrever. Vendendo livros? Sim, mas não só isso. Existem outras formas, que também dependem do principal requisito.
Então tá. Os posts Viver de Escrever talvez nos ajudem, a mim e aos milhões de aspirantes, a entender que não estamos sós, muito pelo contrário, somos centenas, milhares de gente que pensa e coloca, uma letra depois da outra a procura de algum sentido, seja para o texto, seja para a vida.
Continua...
 

Um comentário:

Márcio Calixto disse...

O ofício de viver da escrita é para lá de gratificante, mas ao mesmo tempo penoso. Raros no nosso Brasil são aqueles que um dia conseguiram viver só disso. Aluísio Azevedo foi um, mas só com a ajuda de seu irmão, Artur, é que conseguiu sobreviver. Já ouvi que Márcio Sousa chegou a tirar algum proveito dessa vida só de escritor, e que hoje, Marcelo Mirisola e Paulo Coelho o conseguem. Mas um sabe escrever e outro vender livros. Viver de escrever quando se sabe escrever é um sonho, não acha?
Muito bom texto, meu querido, muito bom texto. Estou esperando ansioso pelo próximo texto. Abraços