Antes de continuar a contar as histórias colhidas por aí, quero falar sobre uma pesquisa muito interessante. Faz a análise da cobertura de 16 jornais de todas as regiões brasileiras sobre a Violência contra a Mulher. A pesquisa foi realizada pela ANDI – Comunicação e Direitos e pelo Instituto Patrícia Galvão, no âmbito de projeto desenvolvido com o Observatório Brasil da Igualdade de Gênero, da Secretaria de Políticas para as Mulheres do Governo Federal.
Fica
claro como a imprensa trata o assunto. Vejam aí:
A
violência contra a mulher é um tema de destaque no noticiário brasileiro.
Segundo a “Análise da Cobertura da Imprensa sobre Violência contra a Mulher”
quase 20% do que é publicado nas páginas de jornal merece chamada de capa.
O
problema é que este apelo vem acompanhado de uma cobertura policialesca que
pouco se interessa pelas políticas ou pela legislação destinada a combater ou
prevenir as agressões. Apenas 13% da cobertura relaciona-se ao Estado e suas
ações.
Mais de
80% do material analisado são denúncias descontextualizadas e parciais do
problema, e sem propostas ou soluções para evitar novas ocorrências.
Cobertura
local e individualizada
Em 73,78%
do material analisado, a abordagem é individualizada. Ou seja, as notícias
narram casos isolados de violência sem referenciar o problema ou questionar as
diferentes esferas de governo para prevenir os ocorridos ou penalizar os
agressores.
Por isso,
35,1% dos textos sobre o tema são publicados nas seções de notícias locais,
geralmente nas páginas policiais.
No mesmo
sentido, as fontes de informação mais escutadas pelos jornalistas são os
policiais: 25,83% do noticiário. Além dos agentes de segurança pública, também
são consultados especialistas (11,31%), o Judiciário (8%), o Ministério Público
(3,67%) e representantes dos governos estaduais (3,1%).
Políticas
e legislação fora da pauta
Outro
indicativo da falta de debate mais aprofundado nos jornais é a pequena
visibilidade das políticas públicas e da legislação que trata dos crimes contra
a mulher.
Somente
2,13% da cobertura mencionam políticas públicas. A baixa porcentagem indica um
desinteresse em cobrar, monitorar e avaliar as iniciativas do poder público
voltadas à questão.
Cerca de
87% do noticiário também esquecem da legislação existente na área. A Lei Maria
da Penha, que completa cinco anos em 2011, é uma das poucas que merecem alguma
citação.
Mesmo
assim, as notícias publicadas em 2010 não contemplam questões cobradas por esta
lei, como a ausência de mecanismos para a coleta e disponibilização de
estatísticas; a necessidade de campanhas educativas e o papel da educação na
mudança de atitudes.
Causas da
violência e soluções
É pequena
também a abordagem da imprensa sobre as causas da violência contra a mulher.
Somente 13,49% dos textos aprofundam a discussão neste sentido. A ineficiência
das autoridades e a desestruturação familiar são os motivos mais destacados
pela imprensa analisada.
Pouco
mais de 12% dos textos mencionam a impunidade do agressor ou as dificuldades de
penalizá-lo pelo crime.
Outro
problema comum enfrentado pelas vítimas de agressão é a falta de canais para a
denúncia. A imprensa pouco colabora nesse sentido. Apenas 4% das notícias
enfocam os serviços de atendimento como o Ligue 180 e as Delegacias
Especializadas no Atendimento à Mulher (
Também
faltam reportagens sobre a precária situação dessa rede de atenção às mulheres.
Ao ignorar essa lacuna do Estado, a imprensa perde a oportunidade de cobrar
respostas dos poderes públicos.
É isso. Divulgação é uma arma importante nessa guerra
silenciosa.
2 comentários:
Marco, o problema é grave sem dúvida. Vem desde muito e me parece que leis, posturas e ações voltadas para o agressor e sua punição não bastam. O que sinto falta é de uma ação voltada para as mulheres desde meninas. Nas escolas, na familia, na sociedade. O não admitir, a auto estima, a escolha, a coragem de denunciar e que mais seu eu, são passíveis de ser "ensinadas" desde muito cedo. O que existiu em Maria da Penha deveria existir em todas as mulheres. Agressão não é só fisica. Por mais que pareça incrível a esta altura e nestes tempos ditos "modernos" ainda existe submissão, as vezes pouco perceptível, das mulheres aos homens. E, o mais triste é que os homens são quasi sempre educados por mulheres! Faz tempo vi, da janela da casa de minha filha, minhas netas muito pequenas brincando de casinha com um bando de crianças. E fiquei estarrecida de ver todos os meninos sentados sendo servidos numa mesa pelas meninas!Perguntei por que. É assim que se faz, foi a resposta de uma menina de 5 anos!
É isso mesmo, Anna. Deveria ser matéria no primeiro grau. Passar para meninos e meninas, a importância da igualdade e do respeito.
Uma boa política pública só pode começar pela educação.
Obrigado e abraço.
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