
Foto da internet - sem crédito
Ane continua sua história, quando aos dez anos, enquanto acompanhava o enterro de seu pai morto pelo capataz da fazenda, foi vista pelo então filho do patrão, o virtual prefeito da cidade.
Dois dias após
o enterro do pai, ao voltar da escola a menina encontrou a mãe a esperá-la a
entrada da casa. Os ombros arriados, o olhar baixo, perecia perdida em um mundo
distante e sombrio. A menina segurou-a pelos ombros e a sacudiu:
—
Mãe, o que foi que aconteceu. Fala mãe. A mulher apenas levantou os olhos secos e fundos. Olhou algum tempo para o rosto da filha como se enxergasse através dele, o destino há muito reservado e que já não era mais possível adiar.
O som da caminhonete se aproximando alertou as duas.
Ataulfo, o capataz, manobrou e parou ao lado delas. De dentro da cabine observou a mãe entrar na casa seguida pela filha.
No chão da sala estava uma velha mala de papelão. A menina olhou aquilo e o sangue esvaiu de suas faces. Procurou o olhar da mãe.
— O que é isso mãe? — Tapou a boca com a mão segurando o soluço. — Pelo amor de Deus mãe. Não deixa.
A mãe se virou e arrastou-se para o quarto. A menina ouviu o som do trinco como se algo explodisse em seu peito. Correu para a porta e antes que batesse e suplicasse, ouviu o gemido longo e doloroso. Soube nesse momento que cumpriria seu destino e que jamais esqueceria o som que ouvira através da porta. Respirou fundo, alteou os ombros, apanhou a mala e caminhou decidida sob o fulgor das últimas luzes do céu alaranjado, espetacularmente triste.
Ignorou a caminhonete e seguiu em frente. Ataulfo deixou-a tomar distância e dirigiu lentamente, um séquito solitário e atento.
Não,
eu jamais imaginaria. Acho que ninguém, em sã consciência.
Ou não?
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